segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Boga Portuguesa “Chondrostoma lusitanicum” na Ribeira do Marchante – Quinta do Conde



Na sequência do trabalho desenvolvido no âmbito da “Proposta de Valorizaçãodo Corredor Ecológico da Ribeira de Coina” do projeto Animenatura
em parceria com a CM de Sesimbra, decorreu desde de junho de 2012 a identificação da comunidade de Bogas Lusitanas “Chondrostoma lusitanicum” na ribeira do Marchante na Quinta do Conde .

Estamos a falar de uma espécie dulciaquícola de grande interesse e que pela primeira vez no nosso Concelho é identificada e caracterizada a sua comunidade, embora exista uma referência para a presença de Chondrostoma lusitanicum na Lagoa de Albufeira, nos anos sessenta, a sua presença não voltou a ser referida nem confirmada.

Estamos a falar de uma espécie com:

Estatuto de Conservação:
Global (UICN 1994): VU (Vulnerável)
Nacional (Cabral et al. 2005):
Chondrostoma lusitanicum - CR (Criticamente em perigo)
Protecção Legal:
• Decreto-Lei nº 140/99, de 24 de Abril, com a redacção que lhe é dada pelo
Decreto-Lei nº 49/05, de 24 de Fevereiro, anexo B-II, transposição da Directiva
Habitats 92/43/CEE, de 21 de Maio
• Decreto-Lei nº 316/89 de 22 de Setembro, transposição para a legislação
nacional da Convenção de Berna, anexo III
• Lei nº 2097, de 6 de Junho de 1959 (Lei da pesca nas águas interiores) e
respectiva regulamentação - Decreto nº 44623, de 10 de Outubro de 1962;
Decreto nº 312/70, de 6 de Julho e legislação complementar
Fenologia:
Espécie residente, endemismo lusitânico.
Distribuição:
Ocorre apenas em Portugal (Região biogeográfica Mediterrânica). C. lusitanicum
ocorre nas bacias do Oeste, Tejo, entre Tejo e Sado, Sado e entre Sado e Mira
e C. almacai nas bacias do Mira e Arade.

O trabalho de investigação está a cardo da Investigadora Carla Sousa Santos do
Centro de Biociências/ Unidade de Investigação em Eco-Etologia – ISPA.

Os resultados alcançados da análise do ADN recolhido apresenta os seguintes resultados: “…para o marcador mitocondrial utilizado (fragmento do gene do citocromo b), dois haplótipos distintos entre si por 3 mutações. Um dos haplótipos aparece em 10 indivíduos e o outro haplótipo nos restantes 6.
Geneticamente estes haplótipos são mais aparentados com aqueles que existem no Tejo e bacias adjacentes (ex. ribeira da Samarra) do que com os haplótipos existentes nas I. lusitanicum do Sado. Conhecendo a filogeografia da
espécie, estes resultados não me surpreendem uma vez que a ribeira de Coina
é um afluente da margem esquerda do Tejo e, a menos que tivesse havido um contacto secundário com afluentes do Sado, seria expectável que esta população fosse geneticamente mais próxima das outras populações do Tejo do
que das populações do Sado.

O facto de termos apanhado 2 haplótipos distintos num lote de 16 indivíduos é bom sinal, uma vez que algumas populações destas espécies nativas já têm a sua diversidade tão reduzida que às vezes uma população inteira partilha o mesmo haplótipo”.

Ameaças:
A situação actual destas espécies caracteriza-se por uma elevada fragmentação
das suas populações, o que aumenta o risco de extinção local na maioria das suas áreas de distribuição. Por outro lado, o facto de esta espécie ocorrer em linhas de água de regime intermitente, o que significa que no período estival as populações se encontram em pegos, tornando-as muito mais vulneráveis às ameaças, tanto por causas naturais como antropogénicas. O isolamento geográfico é especialmente grave no caso de Chondrostoma lusitanicum nas bacias do Tejo e Sado.

Esta descoberta na Ribeira do Marchante vem trazer uma maior valorização a este corredor ecológico adjacente à Vila da Quinta do Conde, pelo qual urge sensibilizar a população e a entidades locais para uma maior e melhor valorização da biodiversidade local, atendendo que a mesma está para além do
que muitos imaginam ser possível.

O ICNF já foi informado da ocorrência, esta população vai ficar incluída no mapa nacional de diversidade genética que estará online brevemente, de acordo com a Investigadora Carla Sousa Santos.

Depois da divulgação pública da existência de uma espécie com estatuto de "criticamente em perigo" no nosso concelho, as ações deverão passar por um plano de proteção, eventualmente com publicação de folhetos, placards informativos junto à ribeira, sessões de educação ambiental nas escolas, etc...

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